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Quinta-Feira, 17 de Agosto de 2017
POR: Equipe Valle
Após sequestro e acidente de trânsito mulher definha em hospital, por falta de anestesista
Policia

Após se tornar vítima de um sequestro relâmpago, seguido de um acidente de trânsito (8/Ago), a secretária, Josefa Fabíola da Silva, de 33 anos, se tornou refém, também, da falta de médicos. Mãe de dois filhos, um de quatro e outra de quatorze anos, Josefa conta com a própria sorte, enquanto aguarda um anestesista, para a realização de dois procedimentos cirúrgicos.

 

Com duas fraturas em duas costelas e em um dos pés, a secretária, após acolhimento no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) foi transferida para o Hospital Regional do Paranoá (HRPa) onde segue internada, enquanto aguarda as cirurgias.

 

No entanto, segundo a irmã, Maria Fabiana da Silva , diarista, 36 anos, tal procedimento pode demorar a acontecer. Por falta de anestesista, no hospital, os pacientes são submetidos à cirurgias em casos prioritários, enquanto os demais pacientes ficam a mercê da própria sorte.

 

Alimentada com líquido, utilizando fralda, com sonda urinária e sem poder se mexer, a irmã falou do desespero da família que teve a rotina toda alterada em decorrência da falta de assistência do Estado e das condições desumadas que os pacientes são submetidos.

 

“Por sorte ela não perdeu os movimentos, mas ela não pode se mover, por causa das dores, porque quebrou duas costelas e quebrou o pé também. Ela precisa fazer uma cirurgia na coluna e uma no pé. Ela está internada do corredor, aguardando as duas cirurgias, e a orientação é que não tem nem previsão. As costas dela está começando a ficar na ferida, porque ela fica só em uma posição. Nós compramos colchão casca de ovo, óleo de girassol para ficar melhor.”, disse Maria Fabiana.

 

Drama na família

Maria Fabiana disse ainda que, por causa do acidente, o marido de Josefa, o motorista, José Hildo Almeida Santos, 48 anos, teve que abandonar o emprego para ajudar a cuidar dos filhos e da mulher internada.

 

“Ele teve que largar o serviço porque nossa família é toda do Ceará, não tem mais ninguém, aqui para ajudar a cuidar dos filhos e da esposa no hospital que precisa de acompanhante por 24 horas, no Paranoá.”, disse ao observar que também pode ter que deixar o trabalho para ajudar nessa nova rotina. “Daqui a pouco até eu vou ter que sair do serviço também para ajudar.”

 

Desespero

Enquanto tenta buscar auxílio da Defensoria Pública do DF, à família ficou o desespero e o grito de socorro, que ecoa nas redes sociais. No Facebook, Maria Fabiana tenta pede que alguém que tenha contato com o governo, possa dar algum tipo de ajuda.

 

Ao falar sobre a irmã, Maria Fabiana se emociona e lembra da vida de Josefa, antes das violências sofridas, por falta de segurança e pelo déficit de servidores da Saúde.

 

“Ela era alegre e feliz. Tomava conta da casas, levava os filhos para a escola, o filho deixou de ir para a creche, ficam com um aqui e outro ali pois familiares não são daqui. Não conseguia ficar parada, sempre cuidando de uma coisa aqui e outra ali.”.

 

Mas o contraste com a nova realidade, rapidamente muda o tom de sua voz. “Agora a  pessoa que está na fralda, fazendo xixi na sonda e para eles parece que é normal. É uma tristeza ver ela nessa situação e não poder fazer nada. Para todo lado que a gente corre nós damos com a porta na cara. Eles falam que tem casos mais graves e que temos que aguardar. Agora por quanto tempo a gente tem que aguardar.

 

Vamos ter que esperar ela ficar com a saúde pior, estar a beira da morte para eles fazerem alguma coisa?”, questionou Maria Fabiana.

 

No que depender da SES…

O caso de Josefa, ao que tudo indica, pode se tornar mais uma das estatísticas que se somam às 4.700 cirurgias eletivas e 250 de emergências, registradas pela SES-DF, ainda em abril de 2015, apenas para procedimentos ortopédicos.

 

Política Distrital (PD)  questionou a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) sobre o caso de Josefa. Por meio da Assessoria de Comunicação (ASCOM), a pasta confirmou a falta de anestesista e, o pior, reflete a preocupação da irmã, ao afirmar a priorização de cirurgias para casos de urgência e emergência.

 

“A Secretaria de Saúde reconhece o déficit de anestesiologistas na rede pública de saúde e no Hospital da Região Leste (antigo Paranoá). A pasta esclarece que tem dificuldades para solucionar o problema, pois as vagas abertas em concursos, tanto para cargos efetivos, quanto para temporários, não são preenchidas. Para não deixar os pacientes desassistidos, o hospital prioriza as cirurgias de urgência e emergência. Os procedimentos eletivos são marcados de acordo com o quadro clínico de cada paciente.”.

 

Problema antigo

Em fevereiro, PD fez matéria sobre suposta especulação de Transferência de cirurgia de coluna do HRPa, para outro hospital. Na ocasião, um dos problemas apontados, por servidor, que pediu sigilo da identidade, foi a falta de anestesistas na unidade, referencia nesse tipo de procedimento cirúrgico.

 

A época, a SES-DF afirmou possuir 292 especialistas em anestesiologia. “Porém, segundo critérios do Ministério da Saúde são necessários 459, quantitativo esse que a SES afirma que “trabalha para recompor o quadro.”.

Opinião

Com isso, a menos que a família consiga suporte, por parte da Justiça, Josefa deve permanecer, internada nos corredores do HRPa, definhando para que consiga atendimento médico, sob o risco de contrair uma infecção hospitalar.

 

Enquanto isso, o filho pequeno deixa de ser assistido por uma creche, a irmã e o marido são obrigados a se ‘auto-colocarem’ na lista dos cerca de 338 mil desempregados, de acordo com dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada nesta quinta-feira (29/6) pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), de modo que possam dar suporte algum tipo de suporte à Josefa, vítima da falta de segurança e de servidores da Saúde. Ou, pior, também, se tornou mais um número, no quadro de estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).

 

Criminometro

Ao menos é o que apontam, dados do Sindicato dos Policiais Civis do DF (SINPOL-DF), que na terça-feira (15/Ago), instalou um criminômetro, próximo ao Palácio do Buriti. O aparelho mostra, a partir de dados de boletins de ocorrência registrados nas delegacias do DF – conforme metodologia utilizada pela SSP-DF, para calcular estatísticas –, os números reais da criminalidade no DF, durante a gestão do governador, Rodrigo Rollemberg (PSB).

 

Dados do SINPOL-DF mostram, em julho, a ocorrência de 50 registros de seqüestros relâmpagos no DF e, até o dia 15 desse mês foram contabilizados outros 23 casos.